'Woodstock brasileiro': o que o Festival de Águas Claras e o evento norte-americano têm em comum

  • 16/04/2024
(Foto: Reprodução)
Festival realizado em uma fazenda de Iacanga, no interior de SP, é considerado uma versão brasileira do famoso evento hippie que reuniu grandes artistas nos EUA. Woodstock (à esquerda) foi realizado nos EUA em 1969 e o Festival de Água Claras entre anos de 1975 e 1984 em Iacanga TV Globo reprodução; Irmo Celso/ Arquivo pessoal Em 2019, o emblemático festival Woodstock completou 50 anos. No mesmo ano, no Brasil, foi lançado o documentário “O Barato de Iacanga”, sobre o Festival de Águas Claras, que é considerado uma versão brasileira do evento norte-americano. Isso porque, apesar da distância geográfica e de tempo, os dois festivais têm alguns aspectos em comum. Seis anos separam a realização dos festivais. O Woodstock aconteceu em agosto de 1969 e o Festival de Águas Claras teve sua primeira edição em 1975. Os dois foram criados em contextos históricos importantes de seus países e com forma de manifestação de contracultura, ambos reunindo adeptos da cultura hippie e amantes do rock and roll. O Woodstock ocorreu em meio às tensões da Guerra Fria, na bipolaridade mundial causada pela oposição entre os Estados Unidos e a União Soviética, que teve como ápice a Guerra do Vietña. A ideia de realizar o festival partiu de quatro jovens: John Roberts, Joel Rosenman, Artie Kornfeld e Michael Lag - e o objetivo era ser uma celebração hippie modesta com participação de grupos de rock. 📲 Participe do canal do g1 Bauru e Marília no WhatsApp Mas o contexto histórico fez com o festival tivesse um apelo popular maior e 180 mil ingressos foram vendidos inicialmente para o evento, mas no fim cerca de 500 mil pessoas participaram e a maioria não pagou pelos ingressos. Cidade do interior de SP que abrigou hippies em festival de música completa 99 anos; relembre o 'Woodstock brasileiro' Muitos pularam as cercas do festival que foi realizado em uma fazenda na cidade de Bethel, no norte do estado de Nova Iorque, que tem uma população de pouco mais de 4 mil habitantes, segundo a última estimativa divulgada em 2010. Os ingressos custavam US$ 18 para três dias de evento com 32 apresentações. Fazenda da família Iacanga foi palco do Festival Águas Claras, no interior de São Paulo Águasclarasfestival/Reprodução Já no Brasil, o Festival de Águas Claras também nasceu da ideia de um jovem nos anos 1970, em meio à ditadura militar, uma época de intensa repressão aos movimentos culturais alternativos. Tudo começou quando Antonio Checchin Junior, o Leivinha, decidiu encenar ao ar livre uma peça teatral que havia escrito. Assim como o festival norte-americano, o local escolhido também foi uma fazenda. No caso, a Fazenda Santa Virgínia, propriedade da família, em Iacanga, cidade que hoje tem cerca de 11 mil habitantes. A ideia inicial também era um pequeno evento, menor ainda que o idealizado nos EUA. Iacanga tinha cerca de 7 mil habitantes à época Águasclarasfestival/Reprodução) À época, com 22 anos, a ideia de Leivinha era reunir amigos, funcionários do local e familiares em torno da peça, realizando um evento cultural, além de um churrasco comunitário. No entanto, o desejo do jovem foi se transformando a partir do momento em que bandas e artistas undergrounds, com características fora dos padrões comerciais e dos modismos, entraram em contato pedindo a oportunidade de participar da "cena" cultural que se formaria na pequena cidade do interior de SP. Na base do "boca a boca", a ideia foi crescendo e o que era para ser um churrasco com amigos e familiares virou um evento de rock, nos moldes dos festivais internacionais. "Era um grupo de moleques fazendo o festival. Eu, o mais velho, 22 anos. O resto era tudo garotada, com 18, 17, 16... 14 anos. Tinha banda que nunca tinha tocado em palco, mas para a realidade do momento, aquilo lá era, de longe, a maior coisa que estava acontecendo", revelou Leivinha no documentário "O Barato de Iacanga", dirigido por Thiago Mattar, de 2019. As semelhanças do Festival Águas Claras com Woodstock estão também na conexão dos jovens da época aos ideais do movimento hippie e ao rock'n'roll. Assim como nos EUA, em Iacanga foram três dias de festival uma parte do público pagou pelos ingressos 30 cruzados, o que hoje corresponde a R$ 76, mas o evento atraiu jovens do país inteiro e muita gente acompanhou os shows sem pagar nada. LEIA TAMBÉM ORIENTE MÉDIO: 'Irmão' do Domo de Ferro, Domo C fica instalado em navio de guerra de Israel e interceptou drone do Iêmen no domingo RIO DE JANEIRO: Após briga, adolescente pega carro da mãe e atropela grupo na porta de casa de festas Repercussão em seus países Mesmo debaixo de muita chuva e com estrutura mínima, o festival de Woodstock se tornou um dos maiores símbolos do movimento pela “paz e amor” pregado pelos hippies e reuniu grandes artistas como The Who, Creendence, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Santana e Joan Baez. Jimmy Hendrix no Festival de Woodstock Divulgação O festival foi um marco para estilo musical e também representou a consolidação do movimento de contracultura que surgiu nos EUA nos 1960. O evento foi retratado no documentário “Woodstock: três dias paz e música”, lançado um ano após o evento e vencedor do Oscar de melhor documentário em 1971. Tiveram outros eventos com o mesmo nome nos anos de 1979, 1989, 1994, 1999 e 2009, porém eles não são considerados edições do mesmo festival e sim eventos homônimos. Dançarina do interior de SP ganha bolsa para estudar balé em Miami: 'Coração dispara de alegria' No Brasil, o Festival de Águas Claras também teve repercussão nacional. Inicialmente nada positivas, tanto que a segunda edição do evento só pode ser realizada em 1981. Na primeira edição, o festival já virou alvo das autoridades da época. Para realizá-lo, Leivinha teve que pedir autorização ao delegado Silvio Pereira Machado, do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), e assinou um termo onde se comprometia a não atentar contra a "moral e os bons costumes". A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, além de mandar policiais militares para acompanhar o festival, elaborou um "Relatório Festival Hippie Águas Claras" ao final do evento, onde apontava os excessos e as transgressões dos participantes. Após o festival, o Ministério da Justiça enviou um memorando aos estados do país informando que existia um movimento hippie, com ideias subversivas e proibiu a realização de outros eventos do mesmo porte. Festival Águas Claras reunia público que buscava liberdades Águasclarasfestival/Reprodução Retorno nos anos 80 e prejuízo financeiro Festival Águas Claras surgiu por acaso em fazenda de Iacanga Águasclarasfestival/Reprodução O Festival de Águas Claras só pôde retornar nos anos 1980, já com estrutura profissional, patrocinadores e transmissão de TV na rede aberta. Ainda sob a tutela do regime militar, mas em um período menos restritivo da ditadura, a alternativa encontrada pelos organizadores para obter a liberação para realizar a 2ª edição do festival foi "abrasileirar" o evento, que ainda buscava manter vivo o espírito hippie, mas agora não seria apenas voltado ao rock. A fazenda da família de Leivinha passou a poder receber até 100 mil pessoas e a escalação de artistas foi montada com nomes mais ligados à Musica Popular Brasileira (MPB), como Gilberto Gil, Luiz Gonzaga, Hermeto Paschoal, Alceu Valença, Fagner, Jards Macalé, Erasmo Carlos e Raul Seixas. Na terceira edição, em 1983, um grande feito - a organização conseguiu que João Gilberto, pai da Bossa Nova, se apresentasse no evento. Mesmo sob chuva, o artista subiu ao palco por volta das 6h e fez aquele que foi seu primeiro e único show ao ar livre. Aliás, a chuva também foi algo comum nos dois eventos, tanto nos EUA, como no Brasil, o público dos festivais tiveram que enfrentar as condições climáticas adversas e a lama que se formou nos locais das festividades. Na quarta e última edição do Festival de Águas Claras, a chuva foi tanta que impediu artistas de subirem ao palco. O evento foi realizado no carnaval de 1984. Durante os dias previstos para a celebração, um temporal atingiu a região, fazendo com que o evento fosse de menor porte e muitos artistas, como João Gilberto, Luiz Melodia, Clementina de Jesus, Moreira da Silva, cancelassem suas apresentações. Gilberto Gil e João Gilberto foram dois músicos a se apresentarem em Iacanga Águasclarasfestival/Reprodução Foi a despedida do evento que nunca mais foi realizado. A fazenda Santa Virgínia foi vendida após a morte do pai de Leivinha, que hoje, advogado, viu o local se transformar em uma propriedade voltada à produção de laranja. Além de, assim como Woodstock, Águas Claras ter virado um documentário (veja mais abaixo), a Prefeitura de Iacanga instalou, em 2023, um monumento em homenagem ao festival. Instalado no calçadão da Praia das Palmeiras, o monumento se junta aos poucos resquícios de memória ao famoso musical que levou o nome da cidade para todos os cantos do Brasil e várias partes do mundo. Iacanga tem monumento em homenagem a Festival de Águas Claras Prefeitura de Iacanga/Divulgação E, por fim, apesar de terem sido tão emblemáticos em cada um dos seus países, terem reunido milhares de pessoas e grandes artistas do Brasil em Iacanga e dos EUA, em Bethel, tanto o Festival de Águas Claras como o de Woodstock causaram prejuízos financeiros para os organizadores. Nesta questão, o evento norte-americano rendeu, posteriormente, mais frutos aos “jovens idealizadores”, uma vez que ainda hoje eles faturam com o direito de imagem no festival. Veja abaixo imagens do documentário 'O barato de Iacanga' Vídeo mostra trechos de documentário, que foi exibido em 2019 em Iacanga Veja mais notícias da região no g1 Bauru e Marília Confira mais notícias do centro-oeste paulista:

FONTE: https://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2024/04/16/woodstock-brasileiro-o-que-o-festival-de-aguas-claras-e-o-evento-norte-americano-tem-em-comum.ghtml


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